quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Dedico

     Embora compreenda as controvérsias do 20 de setembro, não posso deixar de ser bairrista, isto está intrínseco na minha cultura de CTG. Sem entrar nos níveis ideológicos e factuais da história, exalto apenas o que tem de mais lindo nessa cultura, que contem influencias das mais diversas culturas, mas que particularmente define uma paisagem sem igual do o campo e a lida do vivente gaúcho.

Inesquecível poema de Dimas Costa, declamado por Kleber Viana.



TODO MUNDO...MENOS EU

Chegou um dia no pago,
mui perfumada e faceira.
Morena, meiga, trigueira,
mais linda do que uma flor.
Prenda dessas que ao vê-la,
por mais taura que se seja,
até a alma fraqueja
e mata a gente de amor!

Foi um Deus-nos-acuda!
A indiada se alvorotou!
E até um velho que a olhou
de amores enlouqueceu!
Todo mundo andava louco
e o seu amor implorava!
Todo mundo a disputava...
todo mundo...menos eu!

Quando ela passava, catita,
num meneio encantador,
o índio mais peleador
gemia de amor contido!
E se ela dava-lhe um riso,
aquele nunca esquecia
e a todo mundo dizia
que estava de amor perdido!

Perdidos viviam todos,
por tal amor brejeiro.
Cada qual era o primeiro
a querer um riso seu!
E as vezes, por desconfiança,
muito índio se atracava!
E todo mundo peleava,
todo mundo...menos eu!

Era uma flor atrevida
capaz de matar de amor!
Seu olhar tinha um ardor
que queimava o coração!
Por mais duro que se fosse
ao vê-la a gente tremia.
E todo o pago curtia
as dores duma paixão!

Se acaso ia num baile,
havia, certo, peleia.
E quanta pendenga feia!
E quanto cuera morreu!
Pois na hora de uma dança
a indiada se atropelava
e todo mundo a requestava,
todo mundo...menos eu!

Uma vez o patrão da estância
a levou para um ranchito.
Mas nunca viveu solito
pois em grande romaria;
gaúchos, velhos e moços,
não contendo os seus amores,
lá iam levar-lhe flores
e outros mimos, todo dia!

Enfeitavam aquele pouso
com ramos verdes plantados,
como brindes, disfarçados,
ao novo lar que nasceu.
Mas em verdade, queriam
vê-la cada vez mais bela!
E todo mundo era dela,
todo mundo...menos eu!

E assim, gozando venturas,
rainha, dona de tudo,
aquele olhar de veludo,
trouxe a tristeza pra o pago...
Tristeza, talvez ventura,
pois até valia a pena
sofrer por essa morena
na esperança dum afago!

Um dia, porém, a diaba,
se alçou assim, num repente.
Ah! Meu Deus! Aquela gente
parece que enlouqueceu!
Muito índio se matou
de tanto, tanto que amava!
E todo mundo chorava,
todo mundo...menos eu!

Mas o tempo, esse tirano
que destrói até a memória,
foi apagando na história
aquele causo de amor.
Voltou a paz no rincão,
o riso de novo impera
e no rancho, hoje tapera,
ninguém mais planta uma flor!

Seu vulto, não mais recordam.
E dele, ninguém mais fala.
Se alguém lembra, logo se cala
mostrando que já a esqueceu.
Pois a linda flor trigueira,
que eu nunca vira tão bela,
todo mundo esqueceu dela,
todo mundo...menos eu!



Dica: Página do gaúcho. Poemas declamados. http://www.paginadogaucho.com.br/pdec/index.htm

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