Embora compreenda as controvérsias do 20 de setembro, não posso deixar de ser bairrista, isto está intrínseco na minha cultura de CTG. Sem entrar nos níveis ideológicos e factuais da história, exalto apenas o que tem de mais lindo nessa cultura, que contem influencias das mais diversas culturas, mas que particularmente define uma paisagem sem igual do o campo e a lida do vivente gaúcho.
Inesquecível poema de Dimas Costa, declamado por Kleber Viana.
TODO MUNDO...MENOS EU |
Chegou um dia no pago, mui perfumada e faceira. Morena, meiga, trigueira, mais linda do que uma flor. Prenda dessas que ao vê-la, por mais taura que se seja, até a alma fraqueja e mata a gente de amor! Foi um Deus-nos-acuda! A indiada se alvorotou! E até um velho que a olhou de amores enlouqueceu! Todo mundo andava louco e o seu amor implorava! Todo mundo a disputava... todo mundo...menos eu! Quando ela passava, catita, num meneio encantador, o índio mais peleador gemia de amor contido! E se ela dava-lhe um riso, aquele nunca esquecia e a todo mundo dizia que estava de amor perdido! Perdidos viviam todos, por tal amor brejeiro. Cada qual era o primeiro a querer um riso seu! E as vezes, por desconfiança, muito índio se atracava! E todo mundo peleava, todo mundo...menos eu! Era uma flor atrevida capaz de matar de amor! Seu olhar tinha um ardor que queimava o coração! Por mais duro que se fosse ao vê-la a gente tremia. E todo o pago curtia as dores duma paixão! Se acaso ia num baile, havia, certo, peleia. E quanta pendenga feia! E quanto cuera morreu! Pois na hora de uma dança a indiada se atropelava e todo mundo a requestava, todo mundo...menos eu! Uma vez o patrão da estância a levou para um ranchito. Mas nunca viveu solito pois em grande romaria; gaúchos, velhos e moços, não contendo os seus amores, lá iam levar-lhe flores e outros mimos, todo dia! Enfeitavam aquele pouso com ramos verdes plantados, como brindes, disfarçados, ao novo lar que nasceu. Mas em verdade, queriam vê-la cada vez mais bela! E todo mundo era dela, todo mundo...menos eu! E assim, gozando venturas, rainha, dona de tudo, aquele olhar de veludo, trouxe a tristeza pra o pago... Tristeza, talvez ventura, pois até valia a pena sofrer por essa morena na esperança dum afago! Um dia, porém, a diaba, se alçou assim, num repente. Ah! Meu Deus! Aquela gente parece que enlouqueceu! Muito índio se matou de tanto, tanto que amava! E todo mundo chorava, todo mundo...menos eu! Mas o tempo, esse tirano que destrói até a memória, foi apagando na história aquele causo de amor. Voltou a paz no rincão, o riso de novo impera e no rancho, hoje tapera, ninguém mais planta uma flor! Seu vulto, não mais recordam. E dele, ninguém mais fala. Se alguém lembra, logo se cala mostrando que já a esqueceu. Pois a linda flor trigueira, que eu nunca vira tão bela, todo mundo esqueceu dela, todo mundo...menos eu! Dica: Página do gaúcho. Poemas declamados. http://www.paginadogaucho.com.br/pdec/index.htm |
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